quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A Rainha Vermelha



A capa era assim:

• A Rainha Vermelha •
Pequena coletânea de pensamentos
para Asaph Luccas Ferreira


Asaph encarou-o com leveza. Olhou fixamente.
- Obrigado, mãe.
Abraçou-a.
Houve também um grande anseio de dizer a Cristiane Ferreira que ele a amava. Foi uma pena não o ter dito.

Asaph queria ler na sala, para rememorar os velhos tempos, mas a mãe o convenceu o contrário.
- Não vou te ajudar a levar o computador inteiro pra lá - declarou -, fique no quarto.
Asaph permaneceu com o computador no quarto.
Posters de vários tipos nas paredes.
A Rainha Vermelha.

• • •

Ele percorreu os inúmeros esboços e histórias, assim como os desenhos legendados. Coisas como ele comendo, o macarrão escapava do garfo e ele se sujava de molho. Embaixo dizia: Eu apontaria e riria de você. Os ursinhos carinhosos apareceram, assim como os três gatos - Madame Noodle, Senhor Whisky e Doutor Muxfeldt -, para não falar dos registros de incontáveis dias de filmes, choros e risadas.
É claro que havia muitas ideias, desenhos e sonhos relacionados com ele, músicas e o Andy. Recordações da família de Bárbara também estavam presentes. No fim, ela não pudera resistir a incluí-las. Tivera que fazê-lo.
E então veio a página 117.
Foi nela que apareceu a própria Rainha Vermelha.
Era uma fábula, ou um conto de fadas. Asaph não sabia ao certo. Mesmo dias depois, quando consultou os dois termos no dicionário, não conseguiu distinguí-los.
Na página anterior, havia uma notinha.

• Página 116 •
Alph: Quase risquei esta história.
Achei que talvez você já estivesse crescido demais para
esse tipo de conto, mas pode ser que ninguém esteja.
Pensei em você, nas suas palavras e lembranças,
e esta história estranha me veio à cabeça.
Espero que você encontre alguma coisa boa nela.


Asaph virou a página.

• • •

ERA UMA VEZ uma garotinha estranha. Ela era diferente das pessoas à sua volta, simplesmente por pensar. Às vezes ela detestava isso, pois quase sempre ficava triste. Pensar doía. Mas ela não queria se tornar igual aos outros. Talvez por isso ela era diferente.
Mas o pior de tudo é que ela não podia contar o que pensava para ninguém. Todos a achavam ridícula, nunca a levavam à sério. E então, ela estava sozinha.
Até aqui, está parecendo mais uma história clichê de adolescente. E se formos acrescentar que esta história gira em torno da pessoa mais importante para a garotinha estranha, isto se torna mais clichê ainda. Porém, não se desespere; esta não é uma história de amor.

Foi por acaso o modo como se conheceram. Estavam em um site aí e agora - dois anos depois - passam cada segundo de seus dias conversando.
Agora você se pergunta: por quê? O porquê disso tudo nunca foi exatamente definido, talvez seja uma simples coincidência. Por isso ela adorava coincidências. Ele havia sido a melhor coincidência que já tinha ocorrido em sua vida.
Mas infelizmente, conviver com essa coincidência não era uma tarefa fácil. Não por ela ter se tornado íntima o suficiente para passar 50% de seu tempo xingando-o - gay, vadia, suíno, gordo, bitch, e derivados -, mas pela garotinha ter se perguntado muitas vezes como amar tanto uma pessoa que nunca sequer havia visto com os próprios olhos. Uma pessoa na qual ela nunca tocou, nunca abraçou. Por isso ela sonhava com o dia em que poderia conhecê-lo - após todas as tentativas falhadas -. Mas até lá, ela continuaria a viver por uma droga eletrônica. Como sempre fez, durante esses últimos dois anos.

Dizem que ele era seu namorado - poderia, mas não -, que eles se pegavam - uh -, que eles somente melhores amigos - o rly? -, e até que eles tinham algum tipo de pacto sinistro - ... -. Mas ele era "simplesmente" a pessoa que faltava para completá-la. Era, acima de tudo, seu melhor amigo; a pessoa na qual ela podia contar tudo, que ela tirava sarro, que ela brincava, por quem ela chorava quando ele estava mal, que ela pensava quando via horas iguais, seu tudo.

Mas afinal, qual o sentido disso tudo? Não está passando de mais um texto clichê e deprimente de adolescente. Ou um depoimento de aniversário que menininhas mandam pros outros no Orkut. Não há muito motivo ao retratar essa história, que por sua vez não tem nada de tão especial assim. A garotinha era carinhosa, dizia um "eu te amo" ao garoto pelo menos uma vez ao dia. Não havia o que reclamar. Era tudo tão perfeito.
É, pode ser. Talvez a perfeição seja o verdadeiro motivo - algo como um agradecimento. Mas oh, tem algo mais imbecil do que agradecer alguém por existir no aniversário? E o garoto detestava aniversários. Não, isso não faz sentido. Nunca fez, e não é agora que vai fazer.
Provavelmente a garotinha só queria deixar claro o quanto ele era importante para ela, pois ela nunca chegou e disse: "Oi, você é tudo pra mim, tá?", mesmo que essa seja a verdade.

Enfim, esta história sem começo, meio e fim já está lhe cansando. No fim, ela só queria deixar claro o quanto o amava, que era algo tão intenso que chegava a doer. O quanto ele fazia falta sendo que eles haviam conversado há poucas horas atrás. O quanto ela o admirava. O quanto ela queria poder abraçá-lo a hora que quisesse. O quanto ela desejava ir para Londres com ele, ter uma revista e morar com ele em uma casa vintage, com seus três gatos e ao som de LDN percorrendo pela casa.

Então, seria mesmo possível? Ou não passa de um sonho de uma possível história que ainda será escrita por uma garotinha estranha?

• • •

Durante muito tempo, Asaph sentou-se à cama de seu quarto e imaginou onde estaria Bárbara, em todo aquele país. A luz deitou-se à sua volta. O menino adormeceu. A mãe o obrigou a isso e ele o fez, com as lembranças de seu presente de aniversário bem fixos em sua cabeça.

Horas depois, quando acordou, foi que lhe veio a resposta a sua pergunta.
— É claro — murmurou Asaph. — É claro que eu sei onde ela está — e tornou a dormir.

1 comentários:

Lau disse...

OWN QUE LINDOS!
a Babi é muito fofinha AHUAHUAHAUHAUHA awn *-*
espero que esse sentimento seja recíproco. (:

Gente, não foi nada cliché e eu até me emocionei mt aqui! ):
ainda acho que vocês tem futuro, em todos os sentidos :D

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